quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Após minhas leituras sobre a teoria de Humberto Maturana

Segundo o que li sobre Maturana, o observador constrói ao ser legítimo,autônomo, livre e diferente. A construção social das liberdades de cada indivíduo acontece na convivência com os outros, de relacionamento dos livres, dos legítimos, dos autônomos, partindo do respeito às diferenças. Respeito como capacidade que se tem de considerar os outros observadores tão dignos quanto nós, independente de opiniões, crenças, opções, idéias, valores, pontos de vista sobre o mundo, sobre a vida. O observador que vê o outro como a si mesmo, sentindo pelo outro a compaixão, a compreensão, o zelo que deseja para si. Na minha opinião isso é muito profundo e exige de nós uma maturidade racional e, arrisco-me a dizer, também, emocional. Um abrindo espaço para o outro de maneira que cada um faça parte da existência do outro, num fazer conjunto e colaborativo. Acredito que tem muito a ver com nossa profissão, com as redes que formamos dentro das escolas, não só com as crianças, mas com pais, colegas, gestores. Seria como construir uma convivência saudável e plena, apesar das diversidades?
Maturana, como cientista, não abre mão da experiência na produção do conhecimento, não considerando esse conhecimento como algo que só diz respeito ao valor científico, mas como algo que faz parte integrante da vivência do indivíduo, da sua história individual e coletiva.A afetividade, portanto, torna-se vital para uma convivência harmônica e saudável na educação, pois não há aprendizagem sem envolvimento afetivo, sem aceitação do outro, sem que esse outro sinta-se pertencente, aceito e valorizado nesse grupo social chamado de escola repleto de conversações, intenções, emoções e interações. Não há como ser cada um por si e o conhecimento para todos.As emoções estão presentes em nossas vidas, em nossas relações com o mundo e com as pessoas. Precisamos criar laços afetivos com nossos alunos, mas que não podem ser laços frouxos ou mau conectados, porque muitos deles trazem a falta de afeto e de vínculo desde o ventre materno.Precisamos estar abertos ao nosso aluno, à sua história, à sua emoção.É na escola que se abre um leque de relacionamentos para as crianças com: seu professor, os colegas, funcionários, outros pais, outras prôs, etc. Na escola o pensamento, a linguagem, o sentimento, a razão e a emoção estão muito interligados.\"O conhecimento não leva ao controle. Se o conhecimento leva a alguma parte, é ao entendimento, à compreensão e isto leva a uma ação harmônica e ajustada com os outros e o meio.\" (Maturana, 2002)
Recebi neste ano, no mês de abril, uma aluna de 6 anos: não parava no lugar, de difícil relacionamento com as meninas, só brincava com os meninos, com um forte poder de liderança e um grande conhecimento sobre muitas coisas, mas sem concentração, sem parada. Um dia ela me disse: \" Vim estudar nessa escola, porque ninguém me aguentava nas outras escolas.\"Procurei saber sobre ela, através da mãe que falou-me do abuso sofrido pela menina aos 4 anos por um primo de 16, sobre a culpa que a mãe sentia sobre o acontecido e das dificuldades de adptação que a menina sofria nas escolas. Eu estava aberta para criar vínculos positivos, saudáveis com essa aluna, uma criança de 6 anos, que também trazia suas marcas, sofrimentos e desafetos.Tivemos muitas conquistas até aqui. O que mais me deixa feliz ,a ela e a sua mãe,também,é vê-la integrada ao grupo, fazendo parte desse coletivo. Conto com a ajuda de sua família que em mim confia como profissional e de sua terapeuta, que a trata há muito tempo.

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