segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Espaços de Arte/Conhecimento do Professor


“Quando se expõe os alunos a obras de arte no original essas desafiam seu poder de observação e oferecem conhecimento que os habilita para esforços criativos posteriores.O mundo orientado visualmente torna-se um elemento ativo na sala de aula por meio da percepção da análise da imaginação e da expressão da produção ou do fazer arte na classe.”(Robert Ott, 1997)

Foi-me importantíssimo minha visita à Bienal no dia 10 de novembro, podendo perceber, analisar e refletir sobre as obras e sobre as diferentes linguagens dos autores contemporâneos.
Procuro levar meus alunos a espaços de arte onde possam apreciar: peças teatrais(Teatro DC Navegantes, Casa de Cultura Mário Quintana, etc.), eventos culturais (Feira do Livro). Já levei-os em museus com exposições antigas: canhões usados na Revolução Farroupilha, carruagem, botas gigantes(Museu Júlio de Castilhos). Sempre com um planejamento prévio que desse fundamento e lógica a esses passeios pedagógicos. Nunca havia pensado em visitar com eles uma Bienal, onde pudessem vislumbrar, discutir, sentir e apreciar a Arte Contemporânea.
Partindo do que li na interdisciplina de Artes Visuais e da oportunidade que tive em nossa visita à Bienal, de debater, conversar, trocar idéias e pontos de vista com monitores, professora e colegas, refletindo sobre os artistas contemporâneos e suas obras como :
“Machi e sua relação com imagem, movimento e som, suas meditações sutis sobre as possibilidades poéticas da vida cotidiana, bem como Francisco Matto e seu profundo interesse pela cultura pré-colombiana, até Öyvind Fahlström com sua consciência política claramente mostrada em sua obra”.
Pude refletir, também, sobre minha pobre “nutrição estética” em relação à Arte Contemporânea e do quanto ainda preciso conhecer sobre Arte, seus diferentes espaços e suas variadas formas de expressão, permitindo-me integrar-me à inovação artística, à diversidade criativa, como um educador capaz de sentir e construir seu conhecimento de arte em prol de uma prática mais competente e eficaz em sala de aula.

“Se o objetivo é ser um educador de arte, ver arte e estudar arte são questões fundamentais para a construção de uma competência no foco da leitura da imagem da arte. Ver e gostar é só um começo. O professor de arte que tem interesse em construir competências para trabalhar a leitura da imagem da arte em sala de aula precisa conhecer algumas Histórias da Arte, a fim de obter por elas um saber sobre arte e um repertório de imagens produzidas pelos artistas, imagens que são pensamentos visuais, construídas tijolo sobre tijolo, e que estruturam as próprias linhas conceituais das Histórias da Arte”.(Anamélia Bueno Buoro, 2003)

domingo, 18 de novembro de 2007

DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA


O filme, em preto e branco, se passa praticamente numa sala onde doze jurados decidem sobre a sentença de um suposto homicida do próprio pai.

A decisão dos jurados parecia lógica e incontestável:\"O rapaz é culpado pelo assassinato do pai.\", porém tomou um caminho diferente, a partir do momento que o 8º jurado levanta a dúvida da possibilidade do réu ser inocente. Os argumentos e as evidências foram levantadas por ele de maneira brilhante, inteligente e imparcial. O 8º jurado (Henry Fonda) não acreditava na inocência do rapaz, mas demonstrava a preocupação responsável, que tinha como jurado, pela vida humana que estava sendo julgada e poderia ser levada à cadeira elétrica por um erro leviano e onipotente. Ele não se deixou levar por preconceitos, por sentimentos e situações mal resolvidas entre pais e filhos, pelo calor insuportável do dia. Procurou analisar friamente as provas e os testemunhos do caso, enquanto os outros , irados e loucos para dar um fim a tudo para poderem ir para casa estavam pouco se importando com a seriedade e o compromisso de seus papéis ao julgarem e decidirem sobre a vida daquele jovem. É evidente nesse filme, como as pessoas podem ser implacáveis, levianas, apressadas e preconceituosas em suas decisões, sem estudarem e refletirem consciente e responsavelmente sobre o que foi visto e ouvido durante o julgamento. O filme se passa na sala do júri, não mostra o julgamento. Ficamos sabendo sobre o julgamento porque é lembrado durante o diálogo entre os jurados de forma clara, evolutiva e simples.

Chamou-me atenção que, no decorrer do filme, o Sr. Davis (8º jurado) mantem a serenidade, o equilíbrio emocional, usando racionalmente seus argumentos para tentar mostrar aos outros a possível inocência do réu, mesmo que toda a sala se encha de conflitos devido ao pouco caso e a má vontade dos outros jurados em fazê-lo. Tive a nítida impressão que esses conflitos inspiravam-no e, digo mais, encorajavam-no a buscar o convencimento dos outros companheiros. Para isso serviu-se de argumentos inteligentes, precisos, sem sentimentalismos ou moralismos inúteis, sem deixar nenhum jurado perdido em sua retórica.Todos os outros vão construindo a unanimidade de seus vereditos, mesmo contra a vontade. O olhar seguro de Davis é brilhante. Em nenhum momento ele declarou claramente que o réu era inocente, apenas fundamentou seus argumentos, mostrando a incerteza dessa culpa.Como os homens podem ser estúpidos, inconseqüentes e apressados! Como um homem com um argumento magistral e responsável pode fazer toda a diferença! Com seus concretos e precisos argumentos, derrubava de forma real e lógica as evidências que em si mostravam levianamente a culpa do rapaz.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Repensando minha prática

Que cachorrada mal educada, fazendo xixi no poste!
Meus alunos da turma 25, da Escola Municipal Cincinato Jardim do Vale improvisando o passeio de alguns cães pelo Parcão da "79".







"Em uma aula regular de teatro, há exercícios de improvisação, jogos teatrais, jogos dramáticos ou trabalhos que envolvam o uso do corpo, como cosciência corporal ou movimento expressivo. Em todas estas situações, está explícito o propósito de instituir, temporariamente, um espaço em que não seja a vida real, onde seja possível ao estudante, produzir uma outra realidade e assumir outras personalidades."(Cleusa Joceleia Machado)



Desde pequena sempre gostei muito de representar. Participei de um grupo de teatro amador (Nétojos II) em Montenegro, minha cidade natal. Participei de festivais de teatro infantil, sendo que, num deles, o nosso grupo ficou em primeiro lugar com a peça “Pluft, o fantasminha”, de Maria Clara Machado, onde eu personifiquei o Pirata Perna de Pau, o vilão. Em todas as escolas onde trabalhei, montei peças infantis e confesso ter exigido das crianças posturas que provavelmente não estavam preparadas para fazer, como: flexão da voz, presença de palco, decoreba de texto, enfim, caras e bocas. Fico feliz em estar tendo a oportunidade de rever e avaliar minha prática teatral em aula e na escola, através dessa interdisciplina, articulando novas práticas escolares que envolvam todos os meus alunos, oportunizando o fazer teatral de todos enquanto atores e platéia, fazendo relações de mundo, de culturas, refletindo sobre o seu cotidiano e a sua realidade. Quero oportunizar-lhes a busca de suas necessidades e desejos, transformando jogos e brincadeiras em verdadeiros espetáculos de criação, de interdiscipli-
naridade e integração.
Em meu webfólio, da interdisciplina de Teatro e Educação, eu mostro essa minha nova postura no meu Inventário Criativo.








segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O ensino de arte numa visão multiculturalista











Observa-se que a arte indígena, africana e popular, bem como as propostas contemporâneas, dificilmente, são estudadas nos currículos escolares. Perguntas para reflexão:




*Que arte entrou na escola?




*Qual o olhar sobre a arte que está na escola?




*Arte é apenas pintura?




*Todos os artistas estão mortos?




"Ao selecionar os conteúdos e privilegiar um tipo de conhecimento de arte, os professores exercem uma relação de poder, determinando, também, uma concepção de arte."




"O ensino de arte numa concepção contemporânea deve ser eclético e pluralista em sua mistura de formas visuais diversas."




O ensino de arte deve questionar a concepção de arte universalista, fruto de uma elite intelectual artística e incluir a diversidade de suas representações culturais.Para refletir e entender a diversidade cultural, devemos compreender o significado de multiculturalismo.




Segundo Hernandez, uma proposta de ensino multicultural compreende os objetos estéticos dentro de sistemas simbólicos culturais mais amplos, dando lugar às abordagens contextualizadas, instrumentalistas e interdisciplinares. Portanto,partindo dessa premissa, obras de arte são representações sociais, isto é, características de visões de mundo de determinados grupos sociais. Após ler os textos da interdisciplina de Artes Visuais propostos nas temáticas 3 e 4 questionei-me:




*Como poderia começar a construir um ensino de arte como um instrumento para revigorar e recuperar a identidadde, a diversidade e as singularidades culturais?




*Como começar, em minha sala de aula, uma concepção de arte-educação multicultural e crítica, educando para a cidadania?




Encontrei no livro de Língua Portuguesa "Vivência e Construção", de Cláudia Miranda, Angélica Lopes e Vera Lúcia Rodrigues que uso, de quando em vez, com minha turma de 2ª série, o texto "Raízes e tradições: A arte popular no Brasil", de Nereide Schiliaro Santa Rosa, que explica muito bem sobre os artistas populares e suas diferentes linguagens: pintura de quadros, modelagem no barro, escultura em madeira, música, poesia.. Parti desse texto minha discussão com a turma. Viram as gravuras do mesmo livro referentes ao assunto. Solicitei aos meus alunos e aos meus colegas professores que trouxessem de suas casa obras que foram realizadas com esses materiais .Apareceram os seguintes objetos de madeira: caminhões, carros,bichos como cobras e jacarés, bijuterias, esculturas e máscaras simbolizando a arte indígena. Eles escolheram observar e falar sobre uma escultura pequena de madeira que parecia um índio pescador pois trazia na cintura três peixinhos de madeira amarrados a uma calça toda feita de sisal.Essa escultura, comprada no Maranhão, foi trazida pela professora da 4ª série Bernardete Capelli. Expliquei para todos o que era o sisal. Todos tocaram na escultura. Depois responderam as seguintes perguntas: O que você está vendo nessa escultura? De que material ela é feita? De que povo ela nos fala? Por que essa escultura é considerada como arte popular? Como você acha que ela foi feita? Eis algumas colocações orais das crianças sobre essa obra: "É um índio que pescava.""Mostra que o jeito deles é diferente do nosso."É arte popular porque foi feita por gente do povo, como os índios." "Estão contando a história deles." " Essas pessoas podem ter aprendido sozinhas a fazer essa arte ou com seus pais ou com seus avós."




No outro dia, foram trazidos objetos de argila: vasos, esculturas do tipo Bumba -meu-boi, pequenas figuras de africanos e outras do povo nordestino. Também puderam tocar nas esculturas. Perguntei-lhes: Segundo o texto, por que a escultura no barro tornou-se tão popular? A aluna Nathalia disse: "Por que é fácil encontrar o barro na natureza." "Nós, quando queremos fazer modelagem em argila, damos alguns centavos para a prô e ela nos compra." Resolvemos então fazer uma modelagem em argila no outro dia. As fotos desse trabalho acompanham essa postagem. O aluno Vinícius disse "Nós também podemos contar a nossa história e os nossos sentimentos através da arte."


Trabalhamos em outro dia sobre como eram feitos o s brinquedos que os pais ou avós tinham para brincarem quando pequenos. Fizeram uma pesquisa em casa. Descobriram em casa sobre as bonecas de pano, bolas de meia, bonecos de sabugo de milho, carrinhos feitos de lata de azeite. Dei-lhes como tema para casa: Tinham três dias para produzirem com os pais ou com seus avós bonecas de pano e poderiam trazê-las para a nossa exposição em aula. As fotos dessa exposição acompanham essa postagem. Juntos analisamos essas bonecas e detectamos de que forma elas também eram uma expressão da arte popular. O aluno Lucas disse: "Prô, quando tu nos deu essa tarefa de casa os meninos não quiseram fazer uma boneca e sim quiseram fazer um boneco." Instiguei-o: O que isso quer dizer? "Minha mãe me disse que é uma atitude preconceituosa, prô."
Comparamos as bonecas com as outras esculturas que havíamos estudado: o índio de argila, as esculturas de argila. Uma conclusão tirada pelo aluno Itamar: "Essas bonecas estão vestidas que nem a gente." A aluna Mariana ainda comenta:"Tem até um gauchinho com bombacha, botinha, lenço e chapéu." Vinícius, conclui: "Essas bonecas e bonecos de pano também falam um pouco da nossa história."