segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O ensino de arte numa visão multiculturalista











Observa-se que a arte indígena, africana e popular, bem como as propostas contemporâneas, dificilmente, são estudadas nos currículos escolares. Perguntas para reflexão:




*Que arte entrou na escola?




*Qual o olhar sobre a arte que está na escola?




*Arte é apenas pintura?




*Todos os artistas estão mortos?




"Ao selecionar os conteúdos e privilegiar um tipo de conhecimento de arte, os professores exercem uma relação de poder, determinando, também, uma concepção de arte."




"O ensino de arte numa concepção contemporânea deve ser eclético e pluralista em sua mistura de formas visuais diversas."




O ensino de arte deve questionar a concepção de arte universalista, fruto de uma elite intelectual artística e incluir a diversidade de suas representações culturais.Para refletir e entender a diversidade cultural, devemos compreender o significado de multiculturalismo.




Segundo Hernandez, uma proposta de ensino multicultural compreende os objetos estéticos dentro de sistemas simbólicos culturais mais amplos, dando lugar às abordagens contextualizadas, instrumentalistas e interdisciplinares. Portanto,partindo dessa premissa, obras de arte são representações sociais, isto é, características de visões de mundo de determinados grupos sociais. Após ler os textos da interdisciplina de Artes Visuais propostos nas temáticas 3 e 4 questionei-me:




*Como poderia começar a construir um ensino de arte como um instrumento para revigorar e recuperar a identidadde, a diversidade e as singularidades culturais?




*Como começar, em minha sala de aula, uma concepção de arte-educação multicultural e crítica, educando para a cidadania?




Encontrei no livro de Língua Portuguesa "Vivência e Construção", de Cláudia Miranda, Angélica Lopes e Vera Lúcia Rodrigues que uso, de quando em vez, com minha turma de 2ª série, o texto "Raízes e tradições: A arte popular no Brasil", de Nereide Schiliaro Santa Rosa, que explica muito bem sobre os artistas populares e suas diferentes linguagens: pintura de quadros, modelagem no barro, escultura em madeira, música, poesia.. Parti desse texto minha discussão com a turma. Viram as gravuras do mesmo livro referentes ao assunto. Solicitei aos meus alunos e aos meus colegas professores que trouxessem de suas casa obras que foram realizadas com esses materiais .Apareceram os seguintes objetos de madeira: caminhões, carros,bichos como cobras e jacarés, bijuterias, esculturas e máscaras simbolizando a arte indígena. Eles escolheram observar e falar sobre uma escultura pequena de madeira que parecia um índio pescador pois trazia na cintura três peixinhos de madeira amarrados a uma calça toda feita de sisal.Essa escultura, comprada no Maranhão, foi trazida pela professora da 4ª série Bernardete Capelli. Expliquei para todos o que era o sisal. Todos tocaram na escultura. Depois responderam as seguintes perguntas: O que você está vendo nessa escultura? De que material ela é feita? De que povo ela nos fala? Por que essa escultura é considerada como arte popular? Como você acha que ela foi feita? Eis algumas colocações orais das crianças sobre essa obra: "É um índio que pescava.""Mostra que o jeito deles é diferente do nosso."É arte popular porque foi feita por gente do povo, como os índios." "Estão contando a história deles." " Essas pessoas podem ter aprendido sozinhas a fazer essa arte ou com seus pais ou com seus avós."




No outro dia, foram trazidos objetos de argila: vasos, esculturas do tipo Bumba -meu-boi, pequenas figuras de africanos e outras do povo nordestino. Também puderam tocar nas esculturas. Perguntei-lhes: Segundo o texto, por que a escultura no barro tornou-se tão popular? A aluna Nathalia disse: "Por que é fácil encontrar o barro na natureza." "Nós, quando queremos fazer modelagem em argila, damos alguns centavos para a prô e ela nos compra." Resolvemos então fazer uma modelagem em argila no outro dia. As fotos desse trabalho acompanham essa postagem. O aluno Vinícius disse "Nós também podemos contar a nossa história e os nossos sentimentos através da arte."


Trabalhamos em outro dia sobre como eram feitos o s brinquedos que os pais ou avós tinham para brincarem quando pequenos. Fizeram uma pesquisa em casa. Descobriram em casa sobre as bonecas de pano, bolas de meia, bonecos de sabugo de milho, carrinhos feitos de lata de azeite. Dei-lhes como tema para casa: Tinham três dias para produzirem com os pais ou com seus avós bonecas de pano e poderiam trazê-las para a nossa exposição em aula. As fotos dessa exposição acompanham essa postagem. Juntos analisamos essas bonecas e detectamos de que forma elas também eram uma expressão da arte popular. O aluno Lucas disse: "Prô, quando tu nos deu essa tarefa de casa os meninos não quiseram fazer uma boneca e sim quiseram fazer um boneco." Instiguei-o: O que isso quer dizer? "Minha mãe me disse que é uma atitude preconceituosa, prô."
Comparamos as bonecas com as outras esculturas que havíamos estudado: o índio de argila, as esculturas de argila. Uma conclusão tirada pelo aluno Itamar: "Essas bonecas estão vestidas que nem a gente." A aluna Mariana ainda comenta:"Tem até um gauchinho com bombacha, botinha, lenço e chapéu." Vinícius, conclui: "Essas bonecas e bonecos de pano também falam um pouco da nossa história."











Um comentário:

Ana Laura disse...

Roselaine:

Estarei sendo repetitiva ao te dizer que tua postagem me emociona!
Este exemplo de trabalho de Arte que desenvolveste com os alunos contempla aquilo que o Pead espera da construção do conhecimento neste curso de Pedagogia. É incrível a aplicação prática da teoria estudada.
Que bom seria se todos os alunos pudéssem realizar essa ponte, exemplificando na prática aquilo que lê na teoria.
Sugiro que socializes esse trabalho nos fóruns e sensibilizes aos colegas a desafiarem suas práticas com novas construções.
Tenho certeza de que esta maneira de trabalhar revela tua concepção de aprendizagem, baseada em conceitos de construção do conhecimento.
Os alunos que estão participando dessas aulas devem estar curtindo muito esse trabalho e criando uma visão crítica da diversidade cultural.
Adorei!!