quinta-feira, 7 de maio de 2009

A idade de uma criança é critério suficiente para sabermos em que período do desenvolvimento intelectual ela se encontra?

Tenho um aluno de 2º ano, repetente na série, que hoje tem 9 anos(quase 10). Apesar de ter essa idade apresenta algumas características, como:dificuldade de perceber a natureza reversível das coisas, na lógica e nas relações de matemática.Exemplo: Não consegue entender uma contagem sucessiva e antecessiva, classificar, ordenar, seriar, selecionar. Tem dificuldade de encontrar seu lugar na fila se eu sugerir que essa seja organizada do menor para o maior (Ordem Crescente) ou do maior para o menor (ordem decrescente). Os colegas ajudam-no nessa tarefa. Seu vocabulário é pobre, embora não tenha dificuldade de fala.

Sei que vem de família pobre e de pouquíssima cultura, perdendo muito da importante estimulação e interação familiar. Filho de mãe e pai jovens. Relacionamento que acabou não dando certo. Para a mãe trabalhar, fica sobre os cuidados da avó e é educado "aos trancos e barrancos". A mãe tem outro filho de um atual companheiro, que já tive a oportunidade de assistir o quanto gosta do irmão e o quanto, ao mesmo tempo, tem ciúme do mesmo com a mãe. Ele e o padrasto estão sempre em conflito, como se tivessem a mesma idade. Ama muito a mãe e estamos tentando ajudá-la a resgatar a estima do seu filho, mas é muito difícil para ela dar ao filho aquilo que não recebeu. Ela, apesar de ser birrenta e teimosa, tem se mostrado mais acessível e esforçada, do jeito dela, está tentando melhorar esse relacionamento.

É muito paparicado pelo avô paterno, a quem visita regularmente. O pai não lhe dá muita atenção. Tem outra família, cuja esposa tem muito ciúme dele.

No Pré, foi mantido sentado desenhando, pintando, estudando letras e números. Sua consciência corporal não foi trabalhada, nem atividades de classificação, ordenação, seriação com materiais significativos e do cotidiano do aluno, muito menos as primeiras orientações espaços-temporais e as primeiras observações e descobertas científicas.

“Em determinada população podemos caracterizar os estádios por uma cronologia, mas esta é extremamente variável; depende da experiência anterior dos indivíduos, e não apenas de sua maturação; depende, principalmente, do meio social, que pode acelerar ou retardar o aparecimento de um estádio, ou mesmo impedir sua manifestação” (PIAGET,1972, p.200)

No 1º ano não queria frequentar a escola, fazia birra, chorava. No segundo ano, para tentar ajudá-lo, a escola trocou-o de turma e de turno porque a história repetiu-se. Se deu bem com a professora, mas não realizava as atividades de aula. Não alfabetizou-se. Hoje, comigo, vejo muitos dos seus progressos pois pelo menos demonstra interesse em aula, mas tem dificuldade de interagir com o grupo. Quando por mim contrariado inicia acesso de birra e choro, mas logo passa. Necessita muito agir sobre os objetos que lhe sejam significativos pois tem dificuldade de abstração. Foi descobrindo alguns de seus interesses que tenho conseguido ajudá-lo a construir seu conhecimento na matemática e na leitura. Aparentemente, tem uma boa coordenação motora, é prestativo e sinto o quanto gosta de me agradar, mas apresenta muita carência afetiva e estima baixa. Gosta de ser elogiado, aceito, querido e parte do meio, pois a princípio parecia um estranho no ninho. Elogio muito seus trabalhos completos, seu caderno bem organizado, bem como tenho uma postura firme quanto aos seus maus hábitos com os colegas ou em aula.


Coloquei sobre esse aluno por que se a idade fosse critério, deveria já encontrar-se no Estádio das Operações Concretas, mas acredito no trabalho que estamos desenvolvendo com ele, enquanto escola, pois está caminhando, isto é, está num processo desafiador e contínuo de aprendizagem, evoluindo em seu desenvolvimento, a seu tempo. Ele mesmo se surpreende com o que é capaz de realizar.

“Aprender é proceder a uma síntese indefinidamente renovada entre a continuidade e a novidade” (Inhelder, Bovet e Sinclair, 1977, p.263)“A novidade trazida pela aprendizagem e a continuidade garantida pelo desenvolvimento” (BECKER, 2001a, ,p.25-6).

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