domingo, 17 de maio de 2009

Conflitos morais do Professor William Hundert assistidos no filme "Clube do Imperador"









Muitos professores gostariam que sua prática pedagógica, sua postura ética e moral fossem além dos conteúdos a serem desenvolvidos, oportunizando aos seus alunos uma educação integral, não apenas na construção do seu conhecimento, mas na formação ética, moral e filosófica do seu caráter.
São capazes de tomar atitudes discutíveis e onipotentes para conseguir transformar os alunos em seres humanos felizes, dialógicos, capazes de respeitar e amar a sua vida e a do outro, obtendo satisfação em poder conviver em sociedade, percebendo o mundo onde está inserido, apaixonando-se pela luz do conhecimento e da sabedoria.
Estes educadores estão à procura de renovação, objetivando dar significado às suas aulas, carregando em sua excelência pedagógica e educacional essa insatisfação, esse inconformismo. Refletem sobre o cotidiano da escola e buscam soluções para os problemas que nele acontecem.
Ao assistir ao filme “O Clube do Imperador”, vi esse professor idealista e inconformado personificado no Professor William Hundert. É um conceituado, respeitado e apaixonado Professor de História Antiga. Estimulava seus alunos em conhecerem os grandes acontecimentos relativos aos generais e imperadores romanos e aos filósofos gregos.
Seus alunos pertenciam à elite americana, eram promissores e respondiam bem aos seus anseios, dando-lhe mais vontade em realizar um trabalho de qualidade. Mas o Sr. Hundert foi vítima de seu próprio idealismo ao deparar-se com Sedgewick Bell, o aluno arrogante, prepotente e desafiador, filho de um renomado Senador, que acabara de chegar à sua turma.
Os dois entram em conflito, principalmente porque Bell coloca em questão a sua metodologia e as regras da escola. É um aluno desinteressado, sem limites, que instiga os outros colegas à indisciplina.
Mas o educador começou a procurar meios de conquistá-lo, pois via nele um garoto inteligente e capaz. Estimulando-o a estudar começou a ver seu interesse e aplicação. O Professor, para continuar essa tarefa, passou por cima de regras éticas (um conflito moral) ao classificá-lo, desonestamente, para participar do “Clube do Imperador”, concurso anual da Escola, passando-o à frente do outro aluno que alcançou a classificação com mérito por seu conhecimento sobre o Império Romano. Queria, com essa atitude, fazer com que Bell se interessasse mais na busca do conhecimento. Não concordei com o fato de o professor ter dado a Bell a classificação que por direito e mérito pertencia a Martin Blythe, mesmo que a intenção do mestre fosse louvável. Hundert deu luz a quem não queria enxergar. Como já disse em outra ocasião: “Os fins não justificam os meios.”

“A verdade não está com os homens, mas entre os homens.” (Sócrates)

Sedgewick Bell traiu a confiança de seu professor ao trapacear durante o concurso. Ao colocar o fato ao Diretor da Escola, esse lhe diz que fingisse não ter notado. Constituiu-se aí outro conflito moral que feriu brutalmente a postura e as crenças desse professor.
William Hundert, diante da atitude inescrupulosa do aluno, não titubeou ao colocar uma questão que não constaria nas suas “colas”, acabando assim com a pretensão de Sedgewick ser coroado “Imperador Júlio César”, premiação máxima do concurso. Atitude corretíssima do professor em minha opinião. Se Hundert deixasse passar a trapaça de Bell nessa situação escolar e na revanche pedida pelo mesmo aluno vinte e cinco anos depois, quando também trapaceou, estaria alimentando a revoltante, egoísta e destrutiva cultura do “Primeiro eu, segundo eu, terceiro eu,”, o materialismo irracional, a corrupção desenfreada, o desrespeito aos direitos do coletivo, a desmoralização do cidadão, a negativa liderança que destrói uma sociedade promissora, o discurso vazio e demagogo.



"Minha intenção é só de resgatar o que tem de melhor no ser humano, através de meus filhos. Mas isto é o meu Ideal, e gostaria que todos tivessem um Ideal, que os elevassem, no status do caráter. Sei que a agressividade nas pessoas, é somente o medo. E vejo o medo, como ignorância e egoísmo. Concluindo, vejo que o mundo, precisa de pessoas mais altruístas e que pensem no que é melhor para os outros e não para si mesmo." - "Canana" - uma mãe no fórum da Nova Escola





A atitude corajosa e sábia do professor reforça a importância da virtude, da ética, da consciência, da verdade, da confiança, da coragem, do respeito e do conhecimento.
A mais corajosa atitude do Mestre foi ter assumido perante Blyte, vinte e cinco anos depois, que havia trapaceado, tirando-o da competição, quando esse lugar era seu de direito.
Uma das cenas mais emocionantes do filme: a entrada do filho de Blyte na turma de Hundert, mostrando que seu pai não havia perdido a confiança e a admiração que sentia pelo seu professor, mesmo sabendo do acontecido.

“Sob a direção de um sábio general, não haverá jamais soldados fracos.” (Sócrates)

Obtive um importante aprendizado com esse filme, enquanto professora, ser humano, mãe e cidadã: Mesmo que tenhamos um bom caráter, uma formação familiar repleta de valores éticos estamos sujeitos a deslizes, a erros por isso devemos diariamente estar atentos a essas situações cotidianas, bem como a sentimentos e ressentimentos que nos fazem, desonestamente, mudar o rumo da vida e da história do outro, colocando-nos em conflitos com nossas próprias crenças e com nossos valores morais. Há injustiças que cometemos com alunos, com amigos, com filhos que nos machucam, que nos enchem de culpa, mas, infelizmente, foram feitas, consumadas.
Não devemos ser adeptos dessa idéia: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, isto é, meu discurso é um, mas minhas ações demonstram o contrário.



“Quem melhor conhece a verdade é mais capaz de mentir.” (Sócrates)





Nossas escolas estão cheias de alunos que estão ali buscando apenas a escolarização, sem nenhum objetivo de evoluir, de contribuir na construção de um mundo melhor. A Educação, nesses casos, torna-se inútil se não transforma, se não resulta mudanças.





"É a escola cidadã, que forma cidadãos conscientes e por inteiro, que na busca de sua felicidade pessoal sejam também integrados à comunidade em que vivem, capazes de pensar, associar idéias, inventar e interferir, sob as mais diversas maneiras, na estrutura da sociedade, a fim de melhorá-la !" - Vera Vaz

Um comentário:

mauranunes.com disse...

Muito bonita tua reflexão Roselaine! São pequenos detalhes de nosso dia-a-dia, com as nossas ações, que interferem de alguma forma na vida dos que nos rodeiam. Mas o importante é refletir sobre isso e 'se' pensar... e assim realizar diferente, bem como o fizeste aqui no registro do teu percurso. Bjs, Maura - tutora do SI