domingo, 23 de maio de 2010

Maurice Tardif e os saberes docentes (Referencial Teórico)

Para Maurice Tardif, o saber não se reduz única e exclusivamente a processos mentais, tendo como suporte a atividade cognitiva do sujeito, mas também, configura-se com um saber social, manifestando-se nas relações complexas entre professores e alunos.
"Situar o saber do professor na interface sobre o individual e o social entre ator e o sistema, a fim de captar a sua natureza social e individual como um todo." (Tardif, 2002,p. 16)
Os saberes do professor se originam de várias hierarquias: da família, da escola que o formou, da sua cultura pessoal, dos seus pares, da universidade, das formações continuadas. São saberes plurais, heterogêneos, temporais, já que se constroem ao longo da vida e com o passar da carreira, portanto é personalizado.
A vastidão de saberes que forma o professor é essencial para compreender a prática de cada um no processo do coletivo desenvolvido na escola, onde cada professor coloca sua individualidade, na construção de outros e novos saberes.
Segundo esse autor, os saberes cotidianos do professor, o conhecimento de seu trabalho devem ser considerados, desconfigurando o olhar tradicional de que os mestres são apenas transmissores de saberes construídos por outros grupos. Maurice Tardif convoca os educadores, os pesquisadores, o corpo docente, a comunidade científica a unir pesquisa e ensino, propondo que a pesquisa universitária pare de conceber os professores como objetos de pesquisa universitária, que sejam considerados como sujeitos do conhecimento, colaboradores, co-pesquisadores.
As pesquisas desenvolvidas pelas universidades brasileiras devem valorizar os professores ao mesmo tempo que promovam sua formação continuada na busca da construção do conhecimento e a valorização de sua prática educativa, repensando a própria formação acadêmica desse profissional em educação, concebendo as escolas como lugares de formação, de inovação, de experiência e de desenvolvimento profissional, mas também como lugares de pesquisa, de reflexão crítica e coletiva.
O autor usa a expressão "mobilidade de saberes" como uma idéia de movimento, de construção, de constante renovação, de valorização de todos os saberes, não somente em relação ao cognitivo, revelando uma visão da totalidade do ser professor.
O saber está do lado da teoria e a prática pode ser vazia de saber ou pode conter um falso saber, baseado em crenças, ideologias. Para Tardif, o saber é produzido na prática. Aquilo a que chamamos de "teoria", torna-se concreto num sistema de práticas e de profissionais que a produzem e as assumem: pelo trabalho o homem modifica a si mesmo, modifica as suas relações humanas, objetivando a transformação de sua própria situação e a do coletivo onde está inserido.
Tenho plena consciência de que meu "ser professor" traz em si mesmo as balizas de meu trabalho, não reconhecendo-se apenas como saber sobre o trabalho, mas na realidade do trabalho. O meu saber está intimamente relacionado com o trabalho na escola, na sala de aula, estando a serviço da minha profissão, considerando a importância dos meus 31 anos de magistério em conformidade com minha formação pessoal. É fundamental para a minha profissão o conhecimento universitário que estou adquirindo, a minha atualização, minha formação continuada. Questionando-me através do autor:
*Que saberes servem de suporte ao meu ofício de professora?
*Que competências e habilidades mobilizam minha prática diária?
*Como adquiri estes saberes?
*Que conquistas alcancei quanto a definições políticas e sociais na profissão?
*Com o passar dos anos e na minha prática, que mudanças aconteceram em minha metodologia, que novas ações surgiram a partir das minhas experiências interiorizadas e reavaliadas?
Certamente, a cada ano, a cada nova fase, estou aberta ao novo que se desenrola em meu cotidiano profissional e coletivo. Sinto-me uma professora que constrói e reconstrói conhecimento, conforme a necessidade de sua utilização, minhas vivências, minha formação profissional, estimulando a reflexão, a criticidade e a construção do conhecimento de meu aluno.
Sou consciente de minha importância como educadora na formação de homens e mulheres criativos, críticos, autores, participantes e felizes num mundo cada vez mais exigente.



http://www.uniube.br/propep/mestrado/revista/vol05/13/resenhas/R-13-001-Final.pdf



http://www.webartigos.com/articles/23166/1/REFLEXOES-SOBRE-A-FORMACAO-OS-SABERES-E-AS-PRATICAS-DOS-PROFESSORES-NO-CONTEXTO-EDUCACIONAL-DO-SECULO-XXI/pagina1.html

4 comentários:

Patrícia_Tutora PEAD disse...

Roselaine esse seu último páragrafo reflete realmente no que você é...
uma exclente professora consciente da sua importância como educadora na formação de homens e mulheres criativos, críticos, autores, participantes e felizes num mundo cada vez mais exigente.

Meus Parabéns!

Ser professor é...
"Questionar a própria prática, buscar uma melhor qualidade de vida, enriquecer o conhecimento cotidiano, assumir a responsabilidade social da educação, dialogar com a incerteza e aceitar que é preciso sempre aprender, ou seja, ser um inovador". Délcia Enricone

Pérola disse...

NOSSA, ESTE PENSADOR CAIU NO CONCURSO DO MUNICÍPIO DE PRAIA GRANDE , UMA QUESTÃO COMPLEXA MAS BEM ATUAL.

Pérola disse...

ADOREI ESTE COMENTÁRIO, ME SUSCITOU UMA DAS QUESTÕES QUE CAIU. _RESPOSTA: A PRÁTICA ANTECEDE O SABER._

Unknown disse...

Esse é o teórico mais difamador da educação atual.

É a transformação da educação em mercadoria sem nenhuma fantasia para disfarçar! É colocar as pessoas em uma posição em que elas somente vão trabalhar, se reproduzirem e morrerem.

Sem a exploração do potencial humano na tranformação da natural, seja manual, ou nas artes, jogos.

ë tranformar o mundo em maquinas, e maquinas superexploradas.

"A instituição escolar deixaria de ser um lugar de formação para tornar-se um mercado onde seriam oferecidos, aos consumidores (alunos e pais, adultos em processo de reciclagem, educação permanente), saberes instrumentados, saberes-meios, um capital de informações mais ou menos úteis para o seu futuro "posicionamento" no mercado de trabalho e sua adaptação à vida social. As clientelas escolares se transformariam em clientes. A definição e a seleção dos saberes escolares dependeriam então das pressões dos consumidores e da evolução mais ou menos tortuosa do mercado dos saberes sociais. A função dos professores não consistiria mais em formar indivíduos, mas em equipá-los tendo em vista a concorrência implacável que rege o mercado de trabalho (TARDIF, 2002, p. 47-48)."