domingo, 29 de março de 2009

Inclusão

Acredito que a inclusão de crianças com necessidades especiais seja um passo muito importante no que diz respeito aos seus direitos como cidadãos, à uma aprendizagem mais efetiva junto aos seus colegas, à renovação da mentalidade escolar e social a que essa inclusão já está dando novo perfil. Porém, vejo professores e escolas muito desinformadas e amedrontadas com o novo, o diferente devido a nossa própria ignorância e preconceito. Esse medo do professor vem do seu despreparo na sua formação profissional. Os próprios pais sofrem muito quando se deparam com um filho que apresenta essas necesidades especiais. Quando chega o momento de colocá-lo numa escola ficam angustiados, omitem aspectos importantes sobre a criança com medo da rejeição, do preconceito. A lei existe, mas pouco se faz em prol do preparo do Professor, do Supervisor, do Orientador, do gestor. Já tive um menino numa 4ª série de 29 alunos que quando um colega o contrariava ele queria avançar e nem eu, nem ninguém conseguia segurá-lo. Eu me machuquei seriamente,numa ocasião ao tentar segurá-lo. Tínhamos que trancá-lo numa sala até o outro colega ser levado para casa. Hoje, na minha turma de 2º ano, da manhã, tenho dois alunos de inclusão. O primeiro tem 15 anos e fez o 1º ano comigo, depois de ficar 7 anos em Classe Especial. Está alfabetizado, adora ler livros, desenhar, mas tem dificuldades para resolver histórias matemáticas ( raciocínio lógico). Toma uma medicação forte que o faz dormir algumas manhãs inteiras. É desanimado. Não discute comigo, temos uma boa relação afetiva, mas ele sempre faz o que lhe dá na telha. Gosta de fazer trocas com os colegas que adoram os seus desenhos. Vem de uma família pobre, sem cultura. A mãe só aparece para conversar comigo quando convocada via Conselho Tutelar. Reclama que ele a domina e que ela tem medo de ser agredida por ele. O segundo aluno de inclusão da mesma turma é um menino com uma deficiência visual genética, progressiva e irreversível. Não enxerga do quadro e as letras do tamanho que os outros enxergam. Nossa Escola possui uma sala de Recurso com um professor especializado que apoia o aluno DV preparando o mesmo material dos outros com o tamanho de letra que ele consegue enxergar. Está no Nível Silábico da escrita, gosta de estudar, tem dificuldade com a escrita dos números, que eu e a Prô da sala de recursos estamos tentanto sanar. Tem boa mobilidade na sala e no pátio, integrado à turma. Tem uma pequena mania de falar sozinho. A família é participativa.Nessa Escola há casos de inclusão que não são fáceis de lidar, por exemplo: criança que foge, outra que surta, outra que não obedece regras e limites.A inclusão é uma proposta idealizada por muitos e desconhecda por outros tantos. Mudar esse contexto de um ano para o outro é difícil, mas devemos manter os pés no chão, não perdendo de vista a formação do professor, a possibilidade física da escola e a concretização da classe de atendimento especializado, não como sala de reforço, nem de atendimento clínico, mas como um local que dê a criança os complementos de que ela precisa para que possa derrubar as barreiras que lhe permitam lidar com o conhecimento na escola. Se não for possível criar esse atendimento especializado por escola, sugiro que exista um por escolas próximas.

Muitas crianças com necessidades educacionais especiais estão tendo acesso tanto em escolas públicas quanto em escolas privadas. Pela experiência que tenho vivido em minhas escolas posso dizer que cada escola vai moldando seu perfil em relação a inclusão e procurando soluções benéficas, saudáveis, afetivas e pedagógicas para o melhor atendimento dessas crianças acionando a participação de todos os envolvidos: família, profissionais da saúde que atendem e acompanham essas necessidades especiais da criança como: neurologistas, psiquiatras, psicopedagogos, psicólogos, etc...A escola, o professor estão mais sensibilizados e, mesmo amedrontados, fazem o que podem em prol da inclusão. Lembro-me que, há dois anos atrás, minha colega e amiga, professora do Pré, recebeu um aluno com várias dificuldades: de fala, motoras, de socialização. Teve paralisia cerebral e ainda sofria fortes convulsões. Durante a matrícula a família não comentou muito sobre essas dificuldades. Minha colega foi descobrindo-as na rotina da escola. Ela reclamava com a direção, com a supervisão, com a orientação sobre suas dificuldades com o menino que \"subia paredes\", \"gritava\", não aceitava ser contrariado, rasgava as produções dos colegas e queria atenção para si. Gostava da Prô e não admitia dividir a atenção dela com os outros 25 alunos. Ninguém da equipe educacional foi pelo menos conhecer essa criança, a não ser a supervisora que deu um dia uma passadinha na sala para vê-lo. Encurtando a conversa: A professora que também tinha seus traumas com um filho de necessidades especiais, procurou um Psiquiatra para entrar em Licença Saúde, pois também acabou \"surtando\", com pânico da sala de aula. Como os conflitos ajudam na busca de soluções ,a escola obrigou-se a se posicionar. Convocou os pais. Fez várias reuniões com estes. Houve choro, desabafos, debates produtivos. A mãe, a princípio, se revoltou contra a escola que lhe exigia muitas providências. Em suma, hoje, a pedido dos profissionais de saúde que o tratam, reduziu-se o tempo dele na escola, para que fosse sendo aumentado à medida de seus progressos e possibilidades. Mudou-se o seu horário por ser considerado conveniente por causa dos horários da sua medicação. Foi colocado em uma turma com número de alunos reduzido para ser melhor atendido pelo professor de Primeiro Ano. Apresentou muitas dificuldades na aprendizagem e muito pouco tempo de concentração, mesmo nas atividades mais lúdicas e grupais. Hoje, A mãe e o pai mantém com a escola uma atitude de mais confiança pois perceberam as boas intenções pedagógicas e humanas da nossa Instituição Escolar. A criança está mais segura, menos agitada, mais integrada. Mas todos sabemos que há um longo caminho a ser percorrido. Não estamos aqui para \"tampar o sol com a peneira\". No papel, na lei tudo é aceito e muito bem escrito, mas se não contássemos com as atitudes efetivas de gestores escolares e de professores de boa vontade não veríamos, que mesmo a duras penas, bons trabalhos vem sendo realizados em nossa rede a favor da inclusão. A cada inclusão que sei que vou receber fico angustiada, amedrontada, pois sei o quanto muitas vezes sofremos sozinhos, porque somos julgados incapazes e até desumanos por rejeitarmos o diferente, mas será que tudo é tão simples assim? Será que as providências e as políticas públicas que deveriam ser concretizadas estão efetivamente acontecendo? Que tempo e que verba para a saúde estão sendo dedicados à essas crianças quando vem de família pobre e sem conhecimento? Porque o caso que relatei é de um menino de classe média que possui um bom Plano de Saúde que lhe garante todo um apoio médico disposto a interagir com a escola. São todas reflexões relevantes e pertinentes que levei ao forum da Interdisciplina Educação de Pessoas com necessidades Educacionais Especiais..

Um comentário:

Geny disse...

Minha querida aluna Roselaine visitando o seu portfólio são pertinentes os registros de reflexões referentes às dúvidas nas apresentações em PowerPoint, com a fala do professor Eliseo mais a sua pesquisa você chegou a uma conclusão, muito interessante que o comunicante não perca o foco, da sua exposição...
• Quanto à inclusão, concordo que os professores terão que se prepararem para adquirirem condições de trabalhar com as diferenças, acredito que é tarefa para movimentar toda a comunidade escolar e também não pode faltar o trabalho de especialistas como: fonoaudiólogo, neurologista psicólogos, psiquiatra, etc. é o que lembrei no momento.

• Obrigada por seus valiosos registros.


Um grande abraço,
Geny Schwartz da Silva
Tutora Seminário Integrador VI
PEAD/FACED/UFGRS